30 de agosto de 2018
Por Francisco A. M. Sant’Anna*
Mesmo nas mais inusitadas situações e em cenários adversos, os brasileiros são sempre capazes de surpreender. Exemplo disso encontra-se em inédita pesquisa realizada pelo Ibracon – Instituto dos Auditores Independentes do Brasil. Pois bem, em meio a uma das mais graves crises econômicas da história do País, as firmas de auditoria independente a ele associadas responderam que estão investindo 8% de seu faturamento bruto em tecnologia e 9% em capacitação profissional. De modo coerente com esses dados, 79% das associadas afirmaram estimular a participação de seus colaboradores nos nossos cursos, que são inseridos no Programa de Educação Continuada do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), órgão regulador da profissão no País.
Observa-se que, independentemente de dificuldades conjunturais, o setor e seus profissionais buscam preparar-se de modo adequado para as significativas transformações da atividade, suscitadas, de modo cada vez mais rápido, pela tecnologia, como a digitalização dos sistemas, avanços como big data, robotização e inteligência artificial. O imprescindível talento humano, valorizado pela permanente atualização profissional, e o aporte tecnológico são essenciais para se fazer frente ao processo disruptivo em curso e superar as dificuldades que se apresentam ao mercado, também identificadas no estudo do Ibracon.
Dentre os desafios a serem enfrentados, a pesquisa indicou que o principal é atrair novos clientes, apontado por 25% das firmas de auditoria associadas. Outros obstáculos a serem superados referem-se ao desenvolvimento tecnológico, atendimento a contas internacionais, retenção da base de clientes e adequação a normas e regulamentos. Neste último item, é interessante notar que 21% das firmas não associadas ao Ibracon reportaram que encontram dificuldades, ante 10% das associadas. O contraste nesse dado evidencia a importância do permanente trabalho da entidade destinado a manter os auditores independentes sempre atualizados e em linha com as transformações e avanços normativos e legais.
O relatório também demonstrou que o mercado brasileiro de auditoria independente é sólido e consolidado: dentre as firmas associadas ao Ibracon, nas quais 69% dos colaboradores são profissionais da Contabilidade, 73% estão há 20 anos ou mais no mercado. Tais dados delineiam o perfil de um segmento empresarial experiente, com credibilidade e capacitado a atender com excelência às demandas mais complexas. Setenta e seis por cento das empresas filiadas têm dois ou três sócios, caracterizando-se como de pequeno e de médio porte, segmento que vêm merecendo atenção crescente da entidade.
Também dentre as associadas, 55% informaram ter faturamento anual de até R$ 3,6 milhões; de R$ 3 milhões a R$ 10 milhões, foram 6%; de R$ 10 milhões a R$ 300 milhões, 6%; mais de R$ 300 milhões, 18%. Sessenta e um por cento do seu faturamento advêm da auditoria, evidenciando a relevância deste serviço. A consistência destes e de todos os dados apontados na pesquisa é corroborada também pelas respostas das firmas não associadas, muito semelhantes às das associadas.
O estudo também ratificou a agenda que o Ibracon vem desenvolvendo no sentido de valorizar cada vez mais a atividade do auditor independente e promover o seu reconhecimento pela sociedade. Integram essas ações, maior atenção às FAPMP, ampla oferta de atividades de Educação Profissional Continuada, interação permanente com os órgãos reguladores e governamentais, iniciativas de comunicação com diversos stakeholders, e a orientação técnica tempestiva aos auditores independentes e ao mercado.
No âmbito de sua atuação voltada à defesa, fortalecimento da profissão e contribuição no enfrentamento dos desafios do mercado, o Ibracon realiza anualmente a Conferência Brasileira de Contabilidade e Auditoria Independente. Este ano, em sua oitava edição, com mais de 800 participantes, o evento teve consistente programação voltada às transformações que a tecnologia está promovendo no setor.
Dentre os palestrantes estavam mestres da Rutgers Business School de New Jersey, uma das principais faculdades de negócios dos Estados Unidos. A elevada presença é aderente aos investimentos em capacitação profissional apontados na inédita pesquisa realizada pela entidade. Também reforça essa tendência o fato de 70% das firmas associadas entrevistadas no estudo terem levado profissionais para participarem do evento em sua sétima edição, última edição realizada até o fechamento da pesquisa.
Na 8ª Conferência, os especialistas foram unânimes em apontar o grande impacto da tecnologia no trabalho dos auditores, num processo de transformação profundo, amplo e diversificado. O estudo realizado pelo Ibracon identifica com clareza essas mudanças e apontam caminhos a serem seguidos para que a profissão cumpra cada vez melhor a sua missão, essencial para a transparência, ética e compliance nos setores público e privado e, portanto, para a permanente melhoria do ambiente de negócios.
*Francisco A. M. Sant’Anna é presidente do Ibracon – Instituto dos Auditores Independentes do Brasil.
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