Painel da 13ª Conferência Brasileira de Contabilidade e Auditoria Independente discutiu o futuro da profissão diante do uso que já vem sendo feito de novas ferramentas, como o ChatGPT

No dia 28, foi o último dia da 13º Conferência Brasileira de Contabilidade e Auditoria Independente, realizada pelo Ibracon – Instituto de Auditoria Independente do Brasil.

O evento, que aconteceu no Teatro Claro, em São Paulo (SP), teve início com o painel “Tecnologia: considerações no campo da ética e ceticismo profissional”. A key-speaker convidada foi Laurie Endsley, vice-presidente do International Ethics Standards Board for Accountants (IESBA), que debateu os temas com Marcio Santos, líder do Comitê de Tecnologia e Inovação do Ibracon; Giuseppe Masi, membro do Grupo de Trabalho (GT) Ética, Compliance e Independência do Ibracon; e Tatiane Schmitz, membro do GT Firmas de Auditoria de Pequeno e Médio Portes (FAPMP) do Ibracon.

A palestrante Laurie Endsley chamou a atenção do público ao afirmar que, justamente neste momento em que novas tecnologias chegam ao mercado, como o Chat GPT, torna-se ainda mais relevante o papel dos profissionais da Auditoria Independente. E não o contrário. “Nosso papel nunca foi tão importante, assim como a nossa responsabilidade com o público de construir confiança em nossos mercados de capitais, para garantir que haja informações de qualidade confiáveis que permitam aos stakeholders tomarem suas decisões”, enfatizou.

Mas ela também ressaltou que é necessário se adaptar às transformações, para entender, aprender e implementar as novas tecnologias. “Precisamos causar upscaling para atender essas demandas de mudança nos relatórios de financeiros e em outros também, que tem muito a ver com áreas críticas, com tecnologias e elementos essenciais associados a tudo isso. A centralidade da ética é inquestionável nesse mundo em que vivemos. Há muita pressão dos investidores e stakeholders para termos a ética na nossa cultura. E isso é necessário para o modelo de negócios, mas tenho notado ao longo dos últimos anos uma mudança de uma expectativa geral de ética para uma expectativa proativa de intenção e ações éticas, e isso inclui a área da tecnologia, onde as pessoas esperam comportamentos éticos, mas também visões de design de tecnologia éticos”, informou Laurie.

Sem dúvida, é um cenário de novos e complexos desafios de como descobrir caminhos para utilizar a tecnologia de maneira ética e eficiente. “Talvez um dos maiores desafios para todos nós, como contadores esteja na competência profissional, um aspecto que exige que tenhamos os conhecimentos e as habilidades para garantir que estamos dando conselhos profissionais, como especialistas na área de contabilidade. Mas temos que começar a confiar na tecnologia. E isso pode ser feito a partir de uma equipe multidisciplinar, incluindo nela as pessoas especializadas na área para nos dar assistência”, comentou Laurie.

Marcio Santos, líder do Comitê de Tecnologia e Inovação do Ibracon, lembrou que, no ano passado, a Conferência do Ibracon discutiu conceitos como blockchain e metaverso, mas hoje o debate é totalmente outro. “Parecia que aquilo ia ser a grande revolução e, agora, estamos debatendo o ChatGPT. Significa que os ciclos tecnológicos são muito rápido”, disse, destacando que é importante discutir não a tecnologia em si, mas o amadurecimento do mercado para se adaptar a ela.

Este é também o ponto de vista de Giuseppe Masi, membro do Grupo de Trabalho (GT) Ética, Compliance e Independência do Ibracon. Segundo ele, o ponto que precisamos discutir é a necessidade de entender como de fato vamos trabalhar para evitar os possíveis riscos que as novidades tecnológicas certamente implicam na atividade do auditor independente. “Embarcar [na inovação] não é uma opção, mas uma necessidade, uma realidade. Se ainda não estamos em um nível de maturidade que se espera ser o ideal, pelo menos nós já estamos compreendendo que isto é necessário, que a partida tem que ser dada”, afirmou.

Márcio Santos também lembrou da necessidade de rever a formação profissional, até hoje baseada em um conceito analógico. Isso, na opinião de Lauren, é um aspecto que tende a ser rapidamente adaptado. “Vejo que meus filhos e sobrinhos são muito bons com tecnologia, é algo mais natural para eles. Eu acredito que muitas universidades estão começando a tratar disso, mas eu não acho que já estejamos onde deveríamos estar. A federações internacionais tem realizado um trabalhando junto às universidades e escolas de formação profissional, focando nessa mudança”, informou a executiva do IESBA.

O investimento em tecnologia é sempre um ponto de questionamento para as pequenas e médias firmas. Para Tatiane Schmitz, membro do Grupo de Trabalho (GT) Firmas de Auditoria de Pequeno e Médio Portes (FAPMP) do Ibracon, também pode haver, em algum momento, uma resistência ao uso das novas tecnologias. “Nós [das pequenas e médias firmas] temos um desafio ainda maior, porque existem recursos limitados, sejam de pessoas, sejam financeiros para adotar essas ferramentas. Então, esse processo de debate estratégico sobre o uso da tecnologia tem que começar a acontecer, porque possibilitará grandes benefícios”, disse.

Para Lauren, os profissionais de hoje devem saber aliar seus conhecimentos ao uso da tecnologia. “Eu acho que nossa profissão será muito mais interessante com o advento da tecnologia. Há um aspecto muito positivo de novas oportunidades, desde que sejamos responsáveis. No final, os ganhadores serão aqueles que são ágeis, têm a mente aberta e pensam como esse futuro será; e como poderemos, com o nosso profissionalismo, aproveitar essas mudanças.”, concluiu.

Por Comunicação Ibracon