25 de novembro de 2022
Por Comitê de Inclusão e Diversidade do Ibracon
Durante muito tempo, o mercado demonstrou grandes dificuldades em compreender o seu papel de agente transformador em uma sociedade, em especial, em um país com aspectos continentais como o Brasil, porém, a necessidade do comprometimento coletivo, seja para atender às demandas de compliance, seja por posicionamento, vem sendo mais reconhecida. Mover essas estruturas pode trazer uma sensação de estranhamento, comum em todo processo de mudança, e essa é uma excelente oportunidade de acolhermos esse sentimento e tomarmos o controle sobre os preconceitos e vieses que nos atravessam.
O cenário atual de desigualdade racial só pode ser compreendido a partir da história que nos trouxe até aqui, e essa começa na colonização. Muitas vezes, entendemos a escravidão como parte de uma época retrógrada, pouco civilizada. Mas, enquanto pessoas eram escravizadas no Brasil, a anestesia, o bondinho, a lâmpada elétrica e as vacinas eram criadas. Até mesmo “A teoria das espécies”, de Charles Darwin, foi publicada. Nosso próprio país foi independente antes mesmo de todas as pessoas estarem livres, uma vez que a declaração de independência ocorreu em 1822, enquanto a Lei Áurea apenas em 1888. Foi a lei mais curta de nossa história e não trouxe nenhuma proposta de reinserção da população “liberta” na sociedade, o que deixou todas essas pessoas à margem da estrutura sócio econômico cultural da época, literalmente, a mercê do destino. Talvez pessoas negras do seu convívio tenham tido avós ou bisavós que foram escravizados, já que fazem 3 ou 4 gerações que isso ocorreu. Enquanto isso, pessoas brancas tinham acesso à educação e a empregos remunerados, tinham direito de ir e vir e a maioria já tinham bens próprios, ou seja, não foram marginalizadas, discriminadas ou escravizadas por causa de sua cor.
Um passo importante para a jornada é aceitarmos que não temos culpa sobre o que houve, porém, há quem colha os privilégios desse período e quem ainda sofra com as sequelas deixadas. O privilégio racial é sentido pelas pessoas brancas, de características físicas semelhantes à herança europeia, enquanto a opressão é sentida por pessoas não-brancas. Assim, mesmo sendo mais de 56% da população brasileira, afro-brasileiros são minorias dentro de espaços de poder e de tomada de decisão, além de ter menor acesso à educação de qualidade, ensino de idiomas, infraestrutura, saúde e segurança.
Por essa razão e contexto, ações afirmativas são necessárias em nossa sociedade, porém, nem sempre são compreendidas. É comum ouvirmos que “pessoas negras têm a mesma competência que as pessoas brancas, e que por isso cotas e outras ações afirmativas não são necessárias” e, estranhamente, mesmo tendo a mesma competência, ainda não ocupam os mesmos lugares.As ações afirmativas são fundamentais para alcançarmos a equidade racial em nossa sociedade. E é aqui que se iniciam os desconfortos: ver mais pessoas negras, bem como de outros grupos minoritários, nos espaços pode dar a falsa sensação de que se perde para que outros possam ganhar. Nesse ponto, vale questionar: por que sentimos que perdemos ao ver outras pessoas ganharem direitos? A quem esses direitos pertenciam?
Quando exercemos essa reflexão sobre nossos privilégios, nos colocamos dentro da pauta racial respeitando nosso local de fala, sem o peso da culpa ou a comodidade da isenção. Reconhecer nossos privilégios nos faz expandir, não apenas nossa consciência, mas também nossa empatia. Ao defendermos a inclusão, sermos porta-vozes da diversidade e, além disso, combatermos em nós preconceitos e vieses, estamos exercitando o protagonismo na busca pela equidade racial. Esse é um momento para visitarmos nossa consciência, com atenção e acolhimento, e repensarmos nossas ações, visando o futuro equitativo que desejamos.
O Ibracon acredita que o Brasil deve servir a todos os brasileiros e que o futuro precisa contar com todos e oferecer direitos, oportunidades e reconhecimento a todos. Por isso, é dever de todos combater o racismo estrutural em nossa sociedade.
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