3 de julho de 2024
Por Sebastian Soares*
Para Poder 360 – Publicado em 03.07.2024
Nos últimos anos, a sustentabilidade emergiu como uma prioridade incontornável no mundo corporativo. Não se trata mais “apenas” de uma questão ética ou de responsabilidade social, mas sim de uma exigência central para a perenidade dos negócios. É evidente que os assuntos relacionados ao clima agora integram o planejamento estratégico e a gestão de riscos. Mas no futuro próximo, não será apenas questões relacionadas ao clima, outras temáticas como biodiversidade, ecossistema, atração e retenção de talentos, programas de diversidade, equidade e inclusão, dentre outros, também deverão ser integrados e reportados. As empresas, portanto, precisam dar aos processos e controles das informações de sustentabilidade o mesmo nível de relevância concedido às demonstrações financeiras.
No Brasil, o cenário regulatório está em evolução. Propostas como o Projeto de Lei (PL) PL 2.148/2015, aprovado na Câmara dos Deputados e que agora tramita no Senado Federal como PL 182/2024, que institui o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE) e estabelece redução de tributos para produtos adequados à economia verde de baixo carbono, refletem um movimento global em direção à maior transparência e responsabilidade corporativa. O avanço dessas novas normas impulsiona o desenvolvimento de uma economia mais sustentável, colocando o país na vanguarda do combate às mudanças climáticas.
Apesar das iniciativas legislativas, a transição para um modelo de negócios sustentável também envolve a implementação de sistemas de gestão ambiental, social e de governança (ESG) robustos e a capacitação das equipes internas para lidar com as novas exigências.
Desde 2023, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) requer divulgações de sustentabilidade no formulário de referência seguindo a abordagem “pratique ou explique”, ou seja, as empresas deverão informar suas práticas ESG e, caso optem por fornecer informações parciais, ou se não adotarem práticas específicas, devem justificar o porquê. As empresas também precisam alinhar suas práticas às normas já emitidas (e as que serão) pelo International Sustainability Standards Board (ISSB) que deverão conversar também com os principais frameworks utilizados para a elaboração de relatórios de sustentabilidade.
A forma como as empresas se relacionam com o meio ambiente está sob escrutínio e tem se tornado critério importante para decisões de investimento. Uma prova disso é que, em 2022, 91% das companhias de capital aberto no país publicaram relatórios destacando os resultados não financeiros do ano, segundo pesquisa do ano passado realizada pelo Ibracon e a PwC Brasil. O número é o maior já registrado pelo levantamento, desde a primeira edição – 86% divulgaram em 2020 e 82%, em 2021.
A Auditoria Independente surge, então, como uma ferramenta vital para verificar e assegurar a conformidade com esses padrões e com as respectivas divulgações. Os auditores ajudam a identificar lacunas e fornecem recomendações valiosas para aprimorar as práticas empresariais, assegurando que as empresas estejam alinhadas com as expectativas regulatórias e do mercado. Inclusive, um estudo da Federação Internacional dos Contadores (IFAC) sobre a divulgação e asseguração de informações de sustentabilidade no mundo verificou que, em 2021, 64% dos relatórios sobre o assunto foram assegurados ou verificados por uma parte independente, índice 25% superior ao constatado na pesquisa de 2019.
A importância de uma adaptação rápida e eficaz às normas de sustentabilidade não pode ser subestimada. O levantamento feito pela PwC sobre o panorama atual da implementação das regras do International Sustainability Standards Board (ISSB) no Brasil identificou que 68% das empresas de capital aberto pretendem adotar as normas apenas em 2026.
Empresas que não endereçarem essas questões de forma tempestiva, transparente e por que não, de forma antecipada aos prazos regulatórios, correm o risco de perder competitividade, dificuldades de acesso ao fomento de capital financeiro e eventuais danos reputacionais na ótica de diversos stakeholders. Inclusive, a consistência dessas informações, tanto nas demonstrações financeiras, relatório de sustentabilidade e demais anúncios relacionados ao tema, é fundamental para evitar a prática de greenwashing.
Por outro lado, aquelas que adotam práticas sustentáveis de maneira proativa podem se beneficiar de vantagens competitivas, como a atração de investimentos responsáveis, a fidelização de clientes, a retenção de talentos e a melhoria da eficiência operacional.
A adaptação às normas de sustentabilidade é um imperativo inadiável para as empresas que desejam prosperar em um mundo cada vez mais consciente de suas responsabilidades ambientais e sociais. A Auditoria Independente é uma aliada essencial nesse processo, assegurando que as práticas sustentáveis sejam efetivamente implementadas e reportadas com precisão. O caminho é desafiador, mas as oportunidades são igualmente significativas
*Sebastian Soares é presidente do Ibracon – Instituto de Auditoria Independente do Brasil
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