14ª Conferência do Ibracon: Inteligência Artificial na Auditoria Independente - Ibracon
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14ª Conferência do Ibracon: Inteligência Artificial na Auditoria Independente

13 de junho de 2024

Tema ainda controverso na atualidade, a adoção de modernas tecnologias já acontece no setor, e a 14ª Conferência do Ibracon trouxe um amplo olhar sobre isso

Embora já esteja presente em nosso dia a dia, a Inteligência Artificial (IA) ainda provoca receios, dúvidas e questionamentos. Para trazer esclarecimentos sobre o tema, a 14ª Conferência Brasileira de Contabilidade e Auditoria Independente do Ibracon – Instituto de Auditoria Independente do Brasil programou o painel “Inteligência Artificial na Auditoria Independente: oportunidades e implicações”. O evento começou na terça (11) e se encerrou ontem (12) no Teatro Claro Mais, em São Paulo, com transmissão on-line.

Como primeiro palestrante, Ricardo Santana, especialista em Inteligência Artificial e Advanced Data e Analytics, trouxe uma visão mais técnica do tema, mostrando de que maneira a IA vem sendo aplicada na Auditoria Independente e que quais são as oportunidades que se abrem com o uso dessa tecnologia.  Ele começou por abordar os conceitos como o “Triple A”, que se refere às tecnologias que vem mudando nossa maneira de trabalhar, no caso, a Inteligência Artificial (na sigla em inglês AI), Automação e Analytics. “Talvez, a grande reflexão que eu gostaria de dividir com vocês é que hoje, de cada dez atividades que fazemos na auditoria independente,  3 ou 4 já podem ser automatizadas com uma ferramenta, seja na geração do relatório, seja na análise de dados”, declarou.

O palestrante também demonstrou alguns desses recursos que já estão em uso na atualidade, revelando de que maneira uma maior eficiência pode ser gerada, ao mesmo tempo em que se eliminam tarefas mecânicas e demoradas. “Por exemplo, existem artigos científicos que comprovam que a produção de textos hoje é 99,9% mais rápida do que era feito há cinco anos. Temos buscado cada vez mais a automação, mas isso nos mostra que sempre haverá a necessidade de julgamento humano”, disse. Com uma profunda experiência em diferentes projetos de IA generativa, Santana também é professor da Fiap e seu convívio com os jovens profissionais lhe traz outras perspectivas. “Eu vejo como tem sido a revolução trazida por esse tipo de tecnologia na aceleração do conhecimento”, comentou ao citar exemplos de como as ferramentas tecnológicas são capazes de detectar inconsistências em trabalhos de auditoria.

A apresentação seguinte, de Denise Pinheiro, líder de Transformação Digital em firma de auditoria, trouxe uma perspectiva sobre como “auditar” a IA, que tem sido  utilizada amplamente por todas as organizações – ou seja, em linha simples, trata-se de investigar se a tecnologia não irá incorrer em erros. O objetivo da apresentação foi explorar aspectos que permitam evitar possíveis armadilhas que a tecnologia podem trazer aos profissionais. “Alguns dos desafios da IA dizem respeito ao gerenciamento de riscos. Todos os dias vemos notícias relacionadas ao tema nas mídias, seja envolvendo sua regulamentação, seja sobre riscos, oportunidades de expansão de negócios, novos conceitos e novas habilidades. Uma pesquisa recente mostrou que 50% dos CEOs declaram que dependem da IA para trazer mais confiança aos negócios, e que 60% desses líderes não acreditam que suas organizações vão continuar vivas nos próximos dez anos se não continuarem se transformando”, revelou.

A regulamentação foi, na verdade, um dos pontos centrais da apresentação. “O cenário regulatório vem rapidamente se adequando e crescendo, nessa discussão da adoção e do uso responsável da IA. Vemos diversos debates sobre riscos e responsabilidades, sobre privacidade de dados, precisão e assim por diante”. Segundo ela, existe um projeto de lei em discussão para o bom uso da IA – no caso, o PL 2.338/2023. “A gente percebe uma evolução importante, com todo o cenário de discussões sobre o tema. Porque surgem diversas preocupações, sobre ética, sobre privacidade e os diferentes níveis e vieses da indústria em termos da transparência. Então, enquanto ainda não temos regulamentações, existem as discussões aqui no âmbito da governança e das melhores práticas”, declarou.

Pinheiro também destacou que, ainda que a tecnologia seja cada vez mais adotada pelas firmas, isso nunca mudará o fato de que o papel dos auditores independentes é de ele mesmo assegurar a confiança dos processos. “O Santana trouxe aqui diversas possibilidades e modelos de IA, mas por trás disso há certa complexidade. Estamos falando de precisão e das habilidades que um profissional detém. Então precisamos estar atentos aos riscos que venham a impactar o processo de relatórios financeiros”, declarou, reforçando que, essa batalha entre o avanço tecnológico e a responsabilidade humana deve abranger a preocupação sobre o uso indevido da IA.

José Felix, membro de Grupo de Trabalho (GT) de Firmas de Auditoria de Pequeno e Médio Portes (FAPMP) do Ibracon, falou sobre o uso da IA nos trabalhos de auditoria. Em sua perspectiva, para essas firmas é necessário, primeiro compreender as ferramentas disponíveis e que vem sendo mais utilizadas, avaliando suas funcionalidades e objetivos, identificando se são gratuitas ou pagas e se foram desenvolvidas internamente ou adquiridas de fornecedores externos dentre outros aspectos. “A ideia é fazer esse inventário, exatamente dentro da realidade das firmas de autoria de pequeno médio portes, conhecer quais são os aplicações mais utilizadas e aí estabelecer possibilidades de novas aplicações e também para o prover treinamentos e a disseminação dessas aplicações nesse segmento de firmas”, disse.

Ele também relatou algumas de suas experiências com a IA, que lhe deram uma dimensão dos tipos de aplicações que podem ter na auditoria independente. “Este

trabalho de investigação nos dá uma compreensão muito melhor. Na realidade da firma da autoria de pequeno médio porte, os clientes têm uma necessidade muito maior de ajuda, na compreensão e no aconselhamento em relação do seu negócio. Então é importante conhecer o que existe em termos de soluções para o seu negócio e quais são as vantagens dessa determinada aplicação”, declarou.

Para encerrar o painel, Herton Teles, membro do Comitê de Tecnologia e Inovação do Ibracon, teve o papel de dar início a um debate sobre os tópicos apontados pelos dois palestrantes, questionado sobre aspectos como adoção das novas tecnologias, receios e temores dos profissionais, quais ferramentas as firmas devem agregar em um primeiro momentos entre outros tópicos. Nesta última questão, na opinião de Santana, o ideal é começar com experimentações menores até que sejam encontradas as ferramentas ideias para os trabalhos que as firmas de auditoria desenvolvem. Por sua vez, Pinheiro, destacou as plataformas abertas que trazem possibilidades de exploração, além da necessidade de investir em capacitação. Félix, apontou que algumas questões precisam ser observadas na adoção das ferramentas de IA e demais tecnologias, sempre de acordo com o perfil de cada firma e tendo em mente aquilo que se pretende oferecer ao mercado e aos clientes.

Para finalizar a apresentação, foram exibidos os resultados do quiz, que envolveu os espectadores, solicitados a responder: “Qual o benefício da implementação da IA na auditoria independente?”. Para 49% dos respondentes é a garantia de maior eficiência operacional. Outros 29% acreditam que possibilitará maior precisão nas análises. Dezoito por cento acreditam que esse tipo de tecnologia irá gerar economia de tempo e apenas 4% apostaram na redução de custos.

A programação da 14ª Conferência Brasileira de Contabilidade e Auditoria Independente do Ibracon foi totalmente baseada nas Bandeiras da Auditoria Independente: Relevância da Auditoria Independente para o mercado e a sociedade, Tecnologia como aliada da Auditoria de alta qualidade, Pessoas como diferencial, Fortalecimento da cultura de diversidade e inclusão, Atividade baseada no desenvolvimento continuado e Atividade como agente de mudanças. O evento é o maior e mais importante evento voltado à atividade de Auditoria Independente do País. Recebe, anualmente, palestrantes nacionais e internacionais para debater cenários, gerar insights e antecipar tendências.

Por Comunicação Ibracon